Foto - Kimberly do Sítio Monte Azul. antes de seu primeiro ano.
Cortesia de  Maria Andrade e Silva, Rio de Janeiro. Kimberly2


 

    Como pensa o cão ?

No livro “How Dogs Think”, de Stanley Coren, o autor nos coloca frente ao fato de que, apesar de homens e cães conviverem juntos há pelo menos 14.000 anos, existem ainda hoje muitos pontos de vista diferentes a respeito de como a mente canina funciona e dos mecanismos que possibilitam esta tão exitosa relação com os humanos, a ponto de se tornarem “os melhores amigos do homem”. Todos os que já possuíram um cão podem atestar que já vivenciaram demonstrações de lealdade e amor de nossos amigos caninos. Até que ponto, entretanto, estamos interpretando de forma humanística as reações caninas? E até que ponto o que interpretamos como amor e lealdade são apenas comportamentos forjados pela evolução desta espécie, de modo a melhorar suas chances de sobrevivência pela interação com humanos? Um cão que protege seu dono está sendo leal e altruísta ou está simplesmente protegendo sua fonte de alimento? Qualquer que seja a resposta, o fato é que poucas experiências de vida são tão prazeirosas aos humanos como aquelas vividas com nossos companheiros caninos.

Jean Donaldson, em seu livro “The Culture Clash”, nos apresenta um exemplo bastante ilustrativo do cão segundo B.F. Skinner, que seria uma caixa preta que reage de acordo com uma determinada ação, portanto de forma comportamentista; e o cão segundo Walt Disney, aquele animal inteligente que entende o que falam os humanos e que possui até uma consciência. Eis o exemplo: um cachorro foi repreendido várias vezes ao ser flagrado roendo os móveis da casa. Quando o dono chega em casa e descobre o ocorrido, o cachorro se encolhe todo, cabeça e orelhas baixas.

Visão de Walt Disney: o cachorro aprende com a reprimenda recebida que roer a mobília da casa é errado. O cachorro se ressente por ter sido deixado sozinho e, para se vingar do dono, roi a mobília. Em outras palavras, ele deliberadamente executa um ato que sabe ser errado. Quando o dono chega, ele se sente culpado e se encolhe todo, cabeça e orelhas baixas.

Visão de B.F. Skinner: o cachorro aprende que roer a mobília quando o dono está presente é perigoso, mas é seguro quando o dono está ausente. O cão fica ansioso quando deixado sozinho, e se sente melhor roendo a mobília. Ajuda a passar o tempo. Quando o dono volta, o cão age de modo pacífico, tentando evitar ou interromper o tratamento ríspido que recebe toda vez que o dono chega em casa, se encolhendo todo, cabeça e orelhas baixas. A chegada do dono, portanto, se tornou uma previsão da atitude do mesmo que ocorre em seguida, sendo que o cão não liga a reprimenda recebida com o ato de ter roído a mobília.


    

Olfato – O olfato é o sentido mais desenvolvido no cão. Este sentido é tão importante para o cão, que poderíamos dizer que se compara à importância da visão para os humanos. As estruturas orgânicas dos cães responsáveis pelo olfato são muito diferentes das dos humanos. A estrutura orgânica dos humanos responsável pela decodificação do olfato pesa no total 1,5 gramas, enquanto que nos cães elas pesam cerca de 6 gramas. Considerando que o tamanho do cérebro dos cães é de aproximadamente um décimo do tamanho do cérebro dos humanos, podemos dizer que a proporção do cérebro do cão que é responsável pelo olfato é 40 vezes maior do que a dos humanos. Estima-se que os cães possam identificar cheiros entre 1.000 e 10.000 vezes melhor do que os humanos.

Audição – A percepção sonora está vinculada a duas grandezas: a freqüencia, medida em Herz (Hz), equivalente a ciclos por segundo, e a intensidade sonora, medida em decibéis (Db). Na escala de intenidade sonora, zero decibéis equivalem à intensidade em que um ouvido humano jovem começa a perceber o som. No que diz respeito às altas freqüencias, os humanos podem ouvir sons até 20.000 Hz, se seus ouvidos estiverem em muito boa forma. Os cães podem ouvir sons em freqüencias bem mais elevadas, entre 47.000 Hz e 60.000 Hz, dependendo das características do cão. Quanto às baixas freqüencias, na freqüencia de 2.000 HZ e abaixo, até cerca de 65 Hz, cães e humanos possuem a mesma sensitividade sonora. Entretanto para sons entre 3.000 Hz e 12.000 Hz cães podem ouvir sons de intensidade média entre -5 Db e -15 DB, significando que possuem ouvidos muito mais sensíveis nesta faixa de freqüencia. Acima de 12.000 Hz os ouvidos humanos são tão menos sensíveis que os caninos que acaba não fazendo sentido comparações numéricas.

Visão – Os olhos caninos possuem a mesma constituição geral que os olhos dos humanos, entretanto existem diferenças significativas de como as duas espécies percebem o mundo pela visão. Nos seres humanos a maior parte do cérebro dedicada aos sentidos está relacionada com a visão. Os cães mobilizam uma parte proporcionamente menor do cérebro para processamento das informações visuais, tornando-os menos dependentes deste sentido. As pupilas dos cães são muito maiores do que as pupilas dos humanos, e embora a percepção de detalhes e de profundidade não sejam tão apuradas quanto à dos humanos, eles conseguem enxergar melhor com pouca luz. Os olhos dos cães estão adaptados para detectar mudanças no ambiente, de forma que pequenos movimentos podem ser percebidos rapidamente. Os cães não só percebem os movimentos mais facilmente, como podem reconhecer objetos familiares somente com base nos seus padrões de movimento. Os cãem podem ver cores, mas a percepção de cores é bem mais limitada do que a dos humanos, percebendo basicamente as cores como amarelo e azul. Eles percebem as cores verde, amarelo e laranja como amarelado e violeta e azul como azul. A percepção do vermelho é difícil, sendo vista possivelmente como cinza escuro ou até preto.

Paladar – Os cães possuem este sentido bem menos apurado que o dos humanos, e não dão tanta importância ao paladar como imaginamos. Como os cães são predadores na natureza, a maior parte da sua alimentação é carne. Desta forma, o paladar dos cães não está tão focado para perceber o sal como os humanos, pois a carne já oferece uma boa quantidade de sódio para o seu organismo.

Toque – Os cães possuem um elevado grau de expertise no que diz respeito a comunicar-se com outros cães e com os humanos através do toque. O toque está intimamente ligado à formação de ligações entre cães e cães com humanos. Talvez esta associação entre toque e emoção nos cães se deva ao fato de o toque para os cães seja a primeira fonte de informação, pois quando nascem eles são cegos, surdos, e embora o olfato já esteja ativo, nos primeiros dias de vida este sentido ainda não foi desenvolvido completamente.

   


Leitura recomendada :

How Dogs Think - Stanley Coren

The Culture Clash - Jean Donaldson

O encantador de cães - Cesar Millan

How to teach a new dog old tricks - Dr. Ian Dunbar

How to be your dog's best friend - The Monks of New Skete