A responsabilidade do Tutor

Quando decidimos trazer um lindo filhote para nossa casa, pensamos em muitas coisas antes mesmo do novo integrante chegar ao lar: caminha, alimento, potes de água e comida, brinquedos, acessórios, etc. Você já pensou que a educação desse filhote é um processo que precisa acontecer da mesma forma?

O filhote já no canil começa a aprender uma série de coisas que levarão para toda a vida. Controlar força de mordida e aprender linguagem corporal através das interações com sua mãe e irmãos; gostar de toque humano através de carinhos diários das pessoas que cuidam deles e conhecer inúmeros estímulos como barulhos e objetos.

Quando o filhote chega no seu novo lar, seus tutores passam a ser os responsáveis pela educação e bem-estar dele. O cão precisa ter suas necessidades supridas e também se adequar às regras e convívio com a família e a sociedade para que tenham uma vida saudável e uma relação harmoniosa com o mundo que o cerca.

As exposições e aprendizados do filhote até os 4 meses de idade serão decisivos para toda a vida dele. Por exemplo: se ele aprender, nessa fase, que pessoas são muito legais e divertidas, provavelmente será um cão sociável na sua fase adulta. O contrário também é verdadeiro, se não tiver associações positivas, pode ser que lá na frente tenha muita dificuldade para interagir com as pessoas. Claro, o cão aprende durante a vida toda, mas essa é a fase mais crítica, por isso, o direcionamento logo cedo diminuem muito a probabilidade de problemas futuros.

Existem muitos comportamentos importantes como: ser sociável com pessoas e outros animais, saber lidar com novos ambientes e estímulos, fazer necessidades no local correto, não puxar a guia no passeio, não pular nas pessoas, não latir em excesso, respeitar as regras da casa, se comportar em locais públicos e muitos outros que vão depender de família para família.

O cão aprende de uma forma ou de outra e se não orientarmos esse processo, muitas vezes aprendem o que não queremos. Todo comportamento que é recompensado se mantem, sendo que, muitos vezes, comportamentos indesejáveis são recompensados no dia a dia inconscientemente. Por exemplo, o cão que late para ganhar comida na mesa: provavelmente as pessoas acabam dando a comida com o objetivo de calar o cão e, assim, o treinam diariamente para latir na mesa, porque isso funciona para ele!

Hoje temos técnicas positivas e motivacionais que nos permite educar nossos cães de uma forma consistente e prazerosa. Não é necessário o uso de qualquer tipo de bronca, violência, susto, grito ou outras técnicas que agridam fisicamente ou emocionalmente nossos animais.

Podemos contar com informações e orientações através de livros e sites confiáveis sobre comportamento animal e adestramento positivo, além dos profissionais que atuam no ramo, como os adestradores. A escolha de profissionais realmente positivos é muito importante pois muitas outras técnicas podem trazer prejuízos permanentes aos nossos animais.

Vamos colocar o bem-estar e a educação dos nossos cães na lista de “primeiras providências” ao trazer um novo integrante à nossa família?

(Contribuição de Walquiria Orrico Reinig, Médica Veterinária e adestradora comportamentalista)


Treinando o seu cão

Muitos donos de cães se dão por satisfeitos quando um cão senta sob comando. Outros já estão felizes com um treinamento mínimo para que o filhote faça cocô e xixi no local apropriado e outros ainda vão fundo na preparação de seus cães para as competições mais exigentes. Seja qual for o seu caso, mantenha as seções de treinamento curtas, avance em passos pequenos e, acima de tudo, faça as coisas de um modo divertido para você e seu cão.

Tudo de cão Esta seção não tem por objetivo ensinar este ou aquele truque. Existem muitos livros, sites e profissionais no mercado que se propõem a isto.
Por exemplo, você encontra no site Tudo de Cão Transforma muito material para você que quer educar seu cãozinho pessoalmente.

O que pretendemos é introduzi-lo em alguns conceitos de condicionamento que, se bem aplicados, permitem modificar o comportamento de seu cão para os padrões que você julga desejável.

Pavlov e o Condicionamento Clássico

Reflexos inatos são aqueles com os quais nascemos, que estão embutidos em nossos gens, e que nos ajudaram a sobreviver em nossa jornada evolucionista. Um exemplo de reflexo inato é quando de forma instintiva fechamos os olhos quando percebemos um movimento em direção a eles.

Os reflexos condicionados são aqueles que precisam ser aprendidos, e foram descobertos por Ivan Petrovich Pavlov nos anos 20. Ao investigar os processos digestivos em cães, Pavlov observou que os mesmos passaram com o tempo a salivar diante de estímulos que anteriormente não desencadeavam esta reação. Desenvolvendo experimentos científicos, Pavlov observou que estes eventos, que ocorriam anteriormente à alimentação dos cães, passavam com o tempo a ter um poder preditivo.

O condicionamento clássico possibilita o aprendizado de forma associativa. Desta forma, por exemplo, se antes de se alimentar um determinado cão toca-se uma sineta, o cão com o tempo associará o som da sineta com a comida que está por vir, e salivará quando ouvir o som da sineta.

O Condicionamento clássico está associado a um comportamento respondente condicionado, que ocorre em função de um estímulo recebido, como em nosso exemplo, quando o cão responde com salivação ao ouvir o som da sineta.

Skinner e o Condicionamento Operante

Burrhus Frederic Skinner descobriu o condicionamento operante, que é aquele obtido através do uso de consequencias para modificar a ocorrencia ou forma de um determinado comportamento, mudança esta que passa a ocorrer de forma voluntária. Assim, um comportamento que se iniciou de forma aleatória pode ser estimulado, aumentando as chances de que ocorra novamente. Este estímulo é chamado de reforço, que pode ser qualquer coisa que, ocorrendo em conjunção com um ato, tenda a aumentar a probabilidade de que este ato ocorra novamente. Por exemplo, você chama um filhote, ele vem. Então você o acaricia, e este reforço positivo (o carinho recebida pelo filhote) aumenta as chances de que ao ser chamado, o cão venha.

É importante observar que o que é punição para algum indivíduo pode ser recompensa para outro. Desta forma, reforço é uma coisa relativa, e não absoluta.


Modelagem (Shaping)

Modelagem é ensinar um novo comportamento de forma gradual, utilizando reforços, até que o comportamento almejado seja alcançado.

Reforço positivo é aquilo que o cão quer, como por exemplo comida ou carinho. Reforço negativo é o que o cão gostaria de evitar e que pode ser evitado através de uma mudança de comportamento. Por exemplo, o sinal sonoro de advertência em alguns carros para que se colocaque o cinto de segurança é um reforço negativo.


As 10 leis da Modelagem

Em seu livro "Don't shoot the dog", Karen Prior apresenta as 10 leis de modelagem :

1) Aumente as exigências em pequenos passos no sentido de um determinado comportamento que se queira modelar, de modo que o cão sempre tenha chance de receber reforço.

2) Treine somente um aspecto de um determinado comportamento por vez.

3) Durante a modelagem, coloque o reforço em um padrão variável (isto é, continuar reforçando, mas não mais todas as vezes) antes de adicionar um novo passo.

4) Quando introduzir um novo passo, relaxe temporariamente o passo anterior.

5) Esteja à frente do seu cão. Planeje todos os passos com antecedência, de modo a poder reforçar progressos repentinos.

6)Nao mude o treinador durante o treinamento de um determinado comportamento.

7) Se um determinado procedimento de modelagem não está obtendo resultado, descubra outro. Existem diversos caminhos para se modelar um determinado comportamento.

8) Não interrompa uma sessão de forma inadvertida, pois isto pode ser uma punição ao cão.

9) Se o comportamento se deteriorar, volta aos passos anteriores.

10) Quando você termina uma sessão não é tão importante como a forma em que termina a sessão. Tente sempre parar em um momento de exito.


Usando reforço para mudar comportamento

São oito as técnicas para mudança de um comportamento indesejado:

1) "Atire no cão", isto é, corte o mal pela raíz.

2) Punição. Embora seja quase sempre a primeira escolha, é um dos métodos menos eficientes.

3) Reforço negativo, isto é, remover algo desagradável quando o comportamento desejado ocorre. Um cavalo vira para a esquerda quando a rédea esquerda é puxada porque desta forma ele diminui a pressão que o cavaleiro aplica sobre sua boca ao puxar a rédea para a esquerda.

4) Extinção. Um exemplo é quando as crianças param de chorar no banco de trás do carro porque percebem que não conseguem chamara atenção com o choro.

5) Treine um comportamento incompatível. Por exemplo, treine um cão para sentar sob comando e use o comando cada vez que o cão tiver o comportamento indesejado de pular sobre alguém. Enquanto está sentado, ele não pode pular..

6) Treine o cão para praticar um comportamento indesejado para ser executado sob um comando e depois nunca dê este comando.

7) Modele a ausência do comportamento indesejado. Um exemplo é quando as crianças estão viajando quietas no carro; os pais veem uma lanchonete MacDonnalds e dizem: "vocês estão tão quietas na viagem que resolvemos parar para um lanche no Macnonnalds."

8) Mude a motivação. Quando encontramos um jeito de aplicarmos este método, ele é o mais eficiente de todos. Um cão entediado durante o dia tende a latir mais durante a noite. Ao exercitá-lo durante o dia, o mesmo preferirá dormir à noite.

O livro "Don't shoot the dog" de Karen Pryor, do qual extraímos estas técnicas, é muito rico em exemplos práticos. Vale a pena conferir!